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La chamulita


Centenas de cliques durante dois meses pelos México. Centenas de outros possíveis registos que me passaram pela mente, cujo momento foi tão fugaz que não houve sequer um instante para disparar e imobilizar o momento no cartão de memória da minha câmara. Entre paisagens fantásticas, rostos cativantes e finais de dia inesquecíveis e, ainda que a minha companheira de aventura quase sempre me acompanhe, é impossível conseguir registar tudo. Por vezes mesmo após o registo, sei que a fotografia não deveria ter sido tirada daquele ângulo ou com determinado elemento lá presente. Sou fotógrafa amadora e, ainda que já tenha passado pela redação de um Jornal, não deixei de o ser. Não tenho formação profissional na área. Fiquei-me e fico-me pelas arqueologias, por agora. No entanto, julgo ter algumas características sem as quais não se faz um fotógrafo. Sobretudo sensibilidade. Captar determinados momentos tão efémeros que, das duas uma, a câmara dispara ou, terei de guardar esse momento para mim, na minha memória visual, ad eternum...

O propósito destas palavras prendem-se essencialmente com a necessidade pessoal  de eleger "a foto". Personagem principal, uma mulher chamula. Trata-se de um grupo indígena, distribuído pelas colinas que rodeiam San Cristóbal de las Casas. Sobre eles, D.Beatriz, habitante local que, no mesmo dia em que tirei a dita fotografia, proferiu algumas palavras. Serviu-me um belo caldo de tripas ao pequeno-almoço, pelas 9 da manhã, num cantinho escondido onde os aromas se misturam. Comentava, com um ar naturalmente simpático, que há 20 anos atrás ninguém que vivesse ali na cidade lhes punha a vista em cima. Muito raramente desciam das montanhas para até aqui se deslocarem. Imprevistos e anormalidades. Hoje em dia, é rara a rua onde não se avistem chamulas. Dificilmente passam despercebidos/as. Sobretudo elas. Saias de lã negras. Cabelo liso entrançado. Capotes coloridos, bordados à mão. Todo um conjunto de acessórios e detalhes capazes de fazer inveja a qualquer apreciadora de tecidos.

A fotografia em si, do meu ponto de vista, não necessita de grandes detalhes. Os chamulas têm um conjunto de crenças e costumes no seio da sua comunidade que devem ser respeitados e protegidos e, cada vez mais estão a cair no esquecimento e até desrespeitados. Falo de questões relacionadas com os direitos indígenas que obviamente nos ultrapassam pois são realidades e mundos completamente diferentes. No entanto, o acto de fotografar é, para eles um insulto. De certa forma, não exagerada, é um roubo à sua alma e aos seus valores. Naturalmente que a minha intenção, como fotógrafa, mas sobretudo como antropóloga, não se centra em violar a identidade dos chamulas, mas transmitir a dimensão da importância da identidade dos grupos indígenas e relevância do respeito que lhes devemos ter, pela sua singularidade e pelo conjunto de valores que entre eles preservam, mesmo quando se trata de uma mulher que tapa a cara com a sua mão, e que entre nós, europeus, parece está em extinção...





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